Ao meu lado estava Alexis, aparentemente pensando o mesmo que eu. Do outro lado três guardas tão visivelmente confusos quanto eu.
– O que fez? – um dos guardas perguntou – O que vocês fizeram?
– Não devo explicações para vocês! – Alexis falou sem expressão.
– São nossos prisioneiros! – outro guarda gritou – Devem explicações!
– Já disse que não. – Alexis continuava sem expressão.
– Exijo que diga onde estamos! – o terceiro guarda estava apavorado.
– Se forem inteligentes o bastante, descobriram sozinhos. – Alexis ficou alguns segundos fitando a reação do guardas – Já vi que não são inteligentes o bastante... Beatriz, você já sabe onde estamos.
– Acho que desconfio. – respondi olhando para cima.
No mesmo instante os outros guardas também olharam para cima e ficaram ainda mais assustados. Ninguém sabia o que estava acontecendo, mas sabia que algo não estava ocorrendo muito bem por ali.
– Aquilo no teto é...
– O chão da sala do trono! – Alexis interrompeu um dos guardas – Pelo visto o teto dessa passagem funciona como um espelho. Nós estamos bem embaixo dele. Eu senti essa passagem mágica e resolvi abrir-la. Bianor deu uma pista valiosa sobre o paradeiro de minha mãe.
– Então todo aquele reboliço era para encontrar sua mãe? – perguntei.
– E para resgatar as meninas. – Alexis completou – Eu queria ter a certeza de que iria poder caminha livremente pelo castelo, por isso me deixei ser pego. A certeza da nossa prisão fez com que dispersasse a nossa presença quando estávamos invisíveis. Se não houvesse essa certeza, eles sentiriam nossa presença. Talvez não esses guardas, mas Bianor sentiria.
– Deixa eu ver se entendi? – ignorei os guardas – A nossa presença foi camuflada?
– Sim. – Alexis respondeu – A certeza é algo muito forte e pode cegar. Eles estavam tão confiantes de que haviam nos pego, que ignoraram nossa presença inconscientemente.
– Vocês dois! – um dos guardas se irritou – Parem de ficar conversando. São prisioneiros.
– Eu acho que não! – Alexis disse um pouco debochado.
– Tire-nos daqui imediatamente para que possam voltar para suas celas! – o guarda insistia.
– Você realmente acredita que vai me intimidar? – Alexis gargalhou – Eu sou um homem com uma missão. E não irei a lugar algum antes de cumprir-la. Mas se querem tanto sair...
Alexis estendeu a mão e ficou com ela estendida por alguns segundos. Nada aconteceu. Alexis impulsiona o corpo como se estivesse se preparando para voar, mas nada acontece novamente.
– Que ótimo! – disse já desconfiando.
– A magia não funciona aqui! – Alexis confirmou minhas desconfianças.
– Mas esse lugar deve haver uma saída. – um dos guardas estava ficando desesperado.
– Talvez. – Alexis disse alto – Vamos ter que procurar. Depois de achar minha mãe, claro.
– Mas até lá vocês estão todos presos. – o “guarda intimista” puxou um par de algemas que estavam presas em sua cintura.
– Que saber, tanto faz! – Alexis estendeu as mãos – Podem me algemar. Não vai adiantar de nada mesmo.
Outro soldado também retirou as algemas da cintura e veio em minha direção. Resolvi fazer o que Alexis estava fazendo e deixar que me algemassem, mas não foi preciso.
– Ela não! – Alexis falou alto – Pode precisar muito dela ainda. Talvez ela consiga descobrir um jeito de usar magia e nos tirar daqui.
– Mas por onde iremos seguir? – perguntei olhando em volta – Parece que existem várias passagens.
O salão onde estávamos era redondo, como a sala do trono. As paredes eram de pedras roxas, sujas e úmidas. Estavam repletas de musgos e manchas pretas. Havia algumas gretas que escorriam uma água suja e nojenta e, entre um intervalo e outro, portas.
Eram ao todo cinco portas rodeando o salão. Tínhamos cinco passagens. Cinco possíveis saídas. E nenhuma delas era certeza de segurança e salvação. Teríamos que seguir os instintos e nos guiar pela intuição.
– O que você acha Beatriz? – Alexis perguntou.
Pensei bem. Olhei cada saída com atenção. Tentava ver se alguma parecia com uma saída segura, mas estava difícil. Quanto mais olhava mais tinha certeza de que aquelas saídas podia ser tudo, menos seguras. Acabei escolhendo a segunda a minha direita. Era o local mais limpo de toda a sala – em comparação ao resto, claro – e era a que menos me instigava medo.
– Aquela ali! – apontei.
– E quem garante que devemos confiar em você? – o guarda intimista.
– Alguém tem alguma outra sugestão? – Alexis foi híspido – Ela é a nossa única opção.
Nenhum dos guardas questionou, mas também não pareciam ter se convencido. O guarda medroso tremeu um pouco e sem dúvida faria tudo o que Alexis dissesse, mas os outros dois continuaram firmes apesar de seguirem o meu conselho.
Entramos em um amontoado de murros e corredores. No mesmo instante voltamos para a sala principal.
– Ótima idéia! – o guarda intimista debochou – Agora deixe que eu escolho!
O guarda olhou e olhou e resolveu escolher a segunda porta a esquerda. Entramos e novamente nos deparamos com o mesmo amontoado de muros e corredores. Voltamos e olhamos todas as portas até voltarmos a porta que eu havia escolhido. Todas as passagens davam para o mesmo lugar.
– Estamos presos em um labirinto? – o guarda medroso perguntou.
– E o que parece. – respondi.
– E agora? – o segundo guarda perguntou – O que vamos fazer?
– Acho que não temos outra alternativa além de entrar no labirinto! – Alexis falou.
– Mas que maravilha! – o guarda intimista começava a ficar furioso – Nunca iremos sair daqui!
– Nunca diga nunca meu amigo! – Alexis brincou debochado.
– Mas de qualquer forma nos não temos outro lugar para ir. – tentei ficar calma – Se é para ficarmos presos para sempre aqui, pelo menos vamos ficar sabendo que tentamos. Não temos mais nada a perder se entrarmos no labirinto.
– Nossas vidas! – o guarda medroso disse alto.
– O que? – Alexis perguntou.
– Nossas vidas! – o guarda medroso repetiu – Não sabemos o que nos espera lá dentro.
– Mas se ficarmos aqui iremos morrer também. – eu disse – Quanto tempo acha que sobreviveremos sem água e alimento?
– Sem água nós não iremos ficar! – o guarda medroso fitou as gretas que escorriam água.
– Credo! – gritei – Eu não quero chegar ao extremo de ter que beber essa água nojenta para sobreviver. Voto para entramos no labirinto!
– Eu também! – Alexis levantou as mãos algemadas.
– Eu também! – o segundo guarda.
– E independente do voto que vocês derem, já são três contra dois – Alexis se adiantou – Por tanto, vamos seguindo em frente. Ou fiquei ai. Vocês e quem sabem.
Seguimos para o labirinto e os outros dois guardas acabaram seguindo junto com a gente. Eles estavam um pouco relutantes, mas pareceram perceber que aquela realmente era a única saída.
O labirinto era um lugar muito sinistro. Assim como a sala principal, o labirinto era úmido e sujo. Uma fumaça leve, parecia uma névoa, pairava no local e vários barulhos metálicos ecoavam pelos corredores. Um batida se repetia junto com os sons metálicos parecendo varias pessoas marchando. Era como se estivéssemos dentro de um ferro velho.
A cada novo corredor que cruzávamos, novas sensações iam aparecendo. O labirinto aos poucos foi ficando cada vez mais escuro e um clima tenso acabou sendo criado. Começávamos a ouvir o som de um piano desafinada, junto com o eco de ago que parecia estar sempre quicando. Ouvimos também, quase silenciosamente, gemidos como o de um coral agourento. Era como se o vento soprasse os gemidos e os destorcesse. Mas o pior e que, por mais que tentássemos, parecia que estávamos sempre andando para o mesmo lugar.
– Eu desisto! – o guarda medroso – Esse lugar está me dando arrepios!
– Já vi coisas piores! – Alexis debochou, mas tinha razão. Eu e ele já enfrentamos coisas bem piores.
Os corredores começaram a ficar mais estreitos e agora ouvíamos sons de algo sendo esticado. Era como se tivessem pegado algum daqueles elásticos bem duros e estivessem tentando esticar ao máximo, até rasgar ao meio. Tive a terrível sensação de que poderia ser outra coisa que estava sendo esticada.
Olhamos para o teto. Estávamos bem debaixo do quarto dos empregados. Não era sempre que conseguíamos ver onde estávamos, mas quando apareciam era quase um alivio. A única certeza de que não estávamos andando em círculos.
O corredor seguinte tinha batuques de tambor e um cheiro horrível. Ouvíamos grunhidos de animais selvagens e um som de gritos primitivos. A única coisa que nos acompanhava desde que havíamos entrado naquele labirinto era a névoa. De repente o chão começou a tremer.
– Mas o que é agora? – Alexis gritou.
Quando olhamos para trás, um enorme vulcão havia se formado atrás de nós e estava prestes a entrar em erupção.
– Que droga! – Alexis gritou novamente – Por que essas coisas sempre acontecem?
– E o que estamos esperando para sair logo daqui? – perguntei, mas o vulcão já estava explodindo.
Fiquei desesperada neste instante, mas logo em seguida fui invadida por um calor imenso que entrou em meu corpo. Estava me sentindo mais forte e senti a magia voltar ao meu corpo.
– Todos para trás! – gritei enquanto a onda de larva vinha em nossa direção.
– O que você vai fazer? – Alexis gritou.
Senti uma energia se concentrando em minhas mãos. Uma força dominou o local e uma grande barreira começou a crescer e se transformou em um escudo no exato momento em que a larva iria nos atingir. A larva passou por cima do escudo e continuou seguindo corredor a fora. Aos poucos o vulcão foi voltando para debaixo do chão e os gritos e grunhidos cessaram e quando dei por mim estavam todos me olhando.
– O que foi? – perguntei.
– Como conseguiu executar magia? – Alexis perguntou.
– Não sei. – fui sincera – De repente ela estava lá. Mas agora não consigo sentir mais.
– Você é incrível! – Alexis sorriu – Eu disse que era melhor não algemar-la! Ela sempre faz coisas assim... Surpreendentes.
– Estão todos bem? – perguntei.
– Acho que sim. – Alexis respondeu olhando para os guardas que estavam de boca aberta.
– Vamos morrer a qualquer momento! – o guarda medroso caiu para trás desmaiado.
Continuamos seguindo pelos corredores, desta vez com o peso extra do guarda que desmaiou, mas como não era eu quem estava carregando não fez diferença. As coisas começaram a ficar mais calmas e apenas a neblina parecia anormal.
Andamos até um grande beco sem saída. Estávamos prontos para dar meia volta quando uma porta apareceu. Todos nós nos assustamos. Os guardas ficaram tão surpresos que deixaram o guarda medroso cair no chão, o fazendo acordar.
– O que aconteceu? – o guarda medroso disse meio zonzo.
– Mas que droga é essa agora? – o guarda intimista.
– Alexis, o que você acha? – perguntei – Entramos?
– Pode ser uma armadilha...
– Mas pode não ser! – o segundo guarda interrompeu Alexis.
– O que está acontecendo? – o guarda medroso estava se recuperando.
– Chegamos a um beco sem saída, uma porta apareceu do nada e agora estamos pensando se entramos ou não. – respondi.
– Não entra não! – o guarda medroso gritou acordando definitivamente – Isso é uma armadilha.
– Eu também não estou sentindo que isso seja seguro. – completei.
– Eu não acredito em suas intuições! – o segundo guarda ficou desesperado – Se você soubesse os lugares seguros teria evitado o vulcão. Eu vou entrar. Eu quero viver!
Alexis deu um passo para trás e fez um gesto indicando que o caminho estava livre para quem quisesse seguir. O segundo guarda não pensou duas vezes e foi em direção a porta. Ele segurou a maçaneta e recuou. Por um instante achei que ele fosse desistir, mas ele foi em frente. Sem olhar, ele seguiu e só conseguimos ver sua imagem caindo em alta velocidade, seguido por um grito. Seguimos para perto da porta para ver o que havia acontecido. Talvez aquela tivesse sido a cena mais horrenda que já tinha presenciado.
– Minha nossa, que horror! – disse tapando os olhos imediatamente.
– Acho que ninguém vai querer seguir esse caminho. – Alexis tentou não parecer sarcástico.
Prefiro não dizer qual foi a imagem horrenda que presenciamos. Não sei se teria estômago o suficiente para descrever-la. Mas uma coisa eu posso garantir: Não foi uma morte bonita de se ver – se é que existe alguma morte bonita.
Demos meia volta e seguimos por outro corredor. O clima começou a ficar gélido e as minhas mãos começaram a endurecer. Eu não sei explicar, mas apesar de todo o clima estranho que estava se formando, eu sentia que ali poderia ser um caminho seguro.
– Sabe o que mais me intriga nisso tudo? – disse fitando os muros.
– O que? – Alexis perguntou.
– Essas paredes! – passei a mão sobre as pedras das paredes – Elas... Eu tenho certeza de que já vi essas paredes antes.
– Tem certeza? – Alexis perguntou, agora também fitando os muros.
– Tenho, mas não consigo me lembrar exatamente onde.
– Seria de algum sonho? – Alexis sugeriu.
– Talvez...
Encontramos no caminho outro beco, mas desta vez nenhuma porta apareceu de surpresa. Ele já estava lá quando chegamos. Os guardas já estavam dando meia volta quando os fiz parar.
– Esperem! – disse alto.
– Você está pensando em entrar por essa porta? – o guarda intimista – Está ficando louca?
– Não. – respondi – Essa porta é segura!
– Tem certeza? – Alexis me fitou.
– Tenho! – respondi com toda segurança.
– Então vamos entrar! – Alexis seguiu em direção a porta.
– Vocês vão entrar por essa porta? – o guarda intimista gritou – Loucos!
– Eu não passo por ai! – o guarda medroso se manifestou – Mas não passo mesmo!
– Então fiquem os dois, que nós iremos! – Alexis falou em seu tom confiante.
– Que se danem vocês dois! – o guarda intimista gritava feito louco.
Eu fiquei um pouco temerosa antes de abrir a porta. Havia afirmado firmemente que aquele era um caminho seguro, e ainda sentia que era um caminho seguro, mas e se não fosse?
Abri a porta devagar e olhei bem para toda a sala.
O piso era branco e bem liso. Parecia ter sido encerado por umas duzentas vezes pelo menos de tanto que brilhava. Era uma sala grande, mas muito fria. Não parecia ter riscos, mas também não parecia ser um caminho agradável.
– A sala é o nosso único caminho para sairmos daqui! – afirmei com segurança – Se não passarmos por ela ficaremos vagando por ai até não poder mais. Precisamos passar por ela.
Os guardas não pareceram se convencer, então entrei para dar mais segurança a eles. Alexis fez o mesmo e continuamos andando pela sala. Pouco depois eles já estavam atrás de nós.
A sala parecia bem maior depois que entramos. E o frio também aumentou. Depois reparei que o piso era tão liso e brilhoso por que estava congelado. A sala inteira estava congelada. As paredes, o teto, tudo estava coberto por uma grossa camada de água congelada.
– Estou me sentindo mais forte. – comentei – Igual quando aquele vulcão entrou em erupção. Sinto minha força aumentando.
– Acho que sei por que isso aconteceu! – Alexis coçou a cabeça – Foi o contato com o seu elemento. Acho que já cheguei a te falar sobre isso. Todo grande mago domina um elemento. Alguns dominam o fogo, outros a água. Alguns o vento, outro a terra. Os grandes magos, apenas os grandes, conseguem se fortalecer e criar mais que simples truques com os elementos. Você se encontrou com o calor, como o fogo, é por isso o seu poder aumentou e você conseguiu criar o escudo. Agora você está em contato com a água e isso está te fortalecendo. Você tem noção do que isso significa?
– Não. – fui sincera. – A maioria dos grandes magos só domina um elemento, você domina dois elementos! Pelo menos dois que nós conhecemos. Não há dúvidas, você será a pessoa que vai derrotar Bianor.
– O que é aquilo? – o guarda medroso seguiu para um objeto preto no meio da sala.
Ele encostou no objeto e um barulho estranho começou a ecoar pela sala. Todos nós nos entreolhamos e ficamos temerosos. O gelo começou a derreter e logo a sala havia virado uma grande piscina. O guarda medroso parecia estar vendo a própria morte, mas eu sentia que estávamos cada vez mais perto da saída.
De repente o chão se abriu e caímos em uma grande rampa.
Escorregamos desenfreados rampa abaixo com litros de água caindo em nossas cabeças, enquanto o chão – que agora havia se tornado o nosso teto – se fechava e nos deixava na escuridão total.
Gritamos desesperados enquanto escorregávamos para sabe-se lá o que. Apesar de não sentir que aquilo pudesse ser perigoso, não pude deixar de ficar aflita quanto ao destino final daquela rampa.
Caímos todos em um chão duro e molhado. Tateamos uns aos outros e tentamos nos manter unidos. Aos poucos nossos olhos começavam a se acostumar com a escuridão e conseguimos enxergar pequenas coisas a nossa frente, mas ainda não era o suficiente para nos sentirmos seguros e para evitar que tropeçássemos.
Segurei bem firme a mão de Alexis. Senti as algemas geladas e segurei as correntes. As algemas tinham uma corrente logo, que permitia que Alexis esticasse o braço até a largura de sua cintura. Isso o ajudou na hora de se localizar tateando as coisas.
Continuei andando e acabei batendo a cabeça em algo. Estava demorando – alias, demorando muito – para que minha “sorte” desse um olá. Achei que ela havia me abandonado.
– Você está bem? – Alexis perguntou depois de ouvir o meu “ai”.
– Estou! – respondi colocando a mão na testa – Mas eu bati em alguma coisa.
Alexis entrou em minha frente e pude ver o seu vulto tateando seja lá o que eu tivesse batido.
– Parece uma grade! – Alexis falou – Acho que é um portão. Espere.
Um ranger de portão velho ecoou na escuridão. Parecia um portão bem enferrujado e com muitos anos de vida marcados em suas grades. Não senti que fosse algo ruim.
– Você vai passar pelo portão? – não sei qual guarda perguntou. Acho que foi o medroso.
– Não há riscos. Eu estou sentindo. – falei.
– Por via das duvidas... – um guarda se aproximou de nós. Era o intimista – Jogue pelo portão o meu capacete. Se for um buraco ou uma armadilha acho que saberemos.
– Não sei se é necessário, mas tudo bem. – Alexis falou com um pouco de indiferença.
Alexis jogou o capacete. Ele bateu em algo. Depois bateu novamente. E novamente. E novamente. E mais uma vez antes de bater nos pés de Alexis.
– Estranho. Muito estranho. – Alexis pegou o capacete.
Alexis pareceu analisar o capacete e jogou novamente. E novamente ele bateu em algo e depois de novo e de novo e de novo até voltar aos pés de Alexis.
– O que você acha Beatriz? – Alexis perguntou – Seguimos em frente mesmo?
– Eu não vejo por que não. – disse sorrindo, mas acho que ninguém viu.
– Jogue o capacete mais uma vez, só para eu conferir uma dúvida! – o guarda intimista pediu.
Alexis jogou e o capacete fez exatamente o mesmo que das outras vezes. Bateu em algo e depois continuou batendo até voltar aos pés de Alexis.
– Acredito que seja uma escada! – o intimista falou – Talvez ela tenha razão. Pode ser a nossa saída.
Subimos a escada. A longa escada. A longa e irregular escada.
Era uma escada bem diferente. Ela não levava a uma única direção. Ao mesmo tempo em que estávamos subindo, começávamos a descer e quando achávamos que desceríamos mais, começávamos a subir. Em algumas horas já não sabia mais em que direção estávamos seguindo, até vermos uma pequena linha de luz retangular.
A luz vinha das frestas de uma porta. Ela contornava toda a porta e era a única coisa que conseguíamos enxergar. Senti que algo muito importante nos aguardava atrás daquela porta. Algo que talvez fosse mudar toda a situação atual de Ofir.
A surpresa foi imensa quando abrimos a porta e nos deparamos com o lugar. Talvez não houvesse surpresa nenhuma para os outros, mas para mim foi a grande revelação. Finalmente havia lembrando onde eu tinha visto aquelas paredes roxas.
A sala com teto cinza e tijolos roxos. Era exatamente como no meu sonho. As pessoas de capa preta também estavam ali, com seus rostos tomados pela escuridão e suas orbitais girando para vários lados ao mesmo tempo. Era a sala do meu sonho. A primeira vez que eu vi Alina. Até o espelho estava ali.
– Alexis. – falei – Acho que finalmente achou o que tanto procura.
– O que? – ele perguntou assustado.
– Sua mãe! – respondi – É aqui que Bianor esconde a Rainha Alina!